quinta-feira, 3 de março de 2011

O muro

Outro dia ela se questionou sobre isso.

Ela sempre se questiona.

Será que é tudo sempre perfeito?

Ela sabe que não.

Mas será que não?

Ela se lembrou, quando era jovem, das brincadeiras bobas, de pular elástico, de fazer performances de dança, de pular na piscina.

De sorrir.

Lembrou dos momentos de confidências, dos momentos em que se sentia amada, importante, quando fazia uma lição e um professor elogiava e corria para contar para os pais. Do orgulho que eles sentiam.

De ser alguém único.

Lembrou das bebedeiras com os amigos, das baladas, das paqueras. Lembrou dos momentos de risada e da sensação de se sentir desejada, admirada.

Quem é que nunca quis se sentir assim, desejada, amada, importante?

Então, ela lembrou da parede.

A parede que a barrou dessas lembranças, desses momentos.

Uma parede que ela construiu, tijolo por tijolo.

Ela se pergunta incessantemente "Por que construí?"

Por que?

Então, ela lembra das ondas dos mares que se agitavam furiosas e lhe encheram, pouco a pouco, até transbordar.

Lembrou das dificuldades, de se sentir cada vez mais sufocada, cada vez com menos espaço, cada vez mais cheia dos ondas.

Lembrou dos choros.

Lembrou da ausência dos sonhos.

Lembrou das perdas que barraram sua vida. Barraram seu crescimento.

E lembrou, como quem acorda de um sonho, de pegar um machado e por dias e noites, longos dias e noite, quebrar um por um os tijolos que ela mesma havia colocado.

Quando ela estava chegando ao final, a escuridão do seu momento atual se misturou com o azul dos momentos gloriosos.

E então, e só então, se fez a vida.

Se fizeram as lembranças e os aprendizados.

Só então ela se fez inteira.

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