terça-feira, 26 de abril de 2011

Um Adeus

(Sugestão... Ler ouvindo Michael Bublé - Lost)

Era um dia comum.

Ele estava deitado na cama.

Seus olhos brilhavam.

Seu olhar era perdido.

Quem o via não sabia se ele olhava o teto, ou se podia ver o mundo através dele.

Corpo imóvel.

Nenhuma palavra.

Seus pensamentos brincavam no ar.

Iam até seus primeiros anos.

Passavam por seus primeiros passos.

Primeiros sorrisos.

Primeiras lágrimas.


Ela estava na porta.

Seu olhar era fixo nele.

Ela não se movia.

Apenas olhava como se soubesse o que passava naquele quarto.

Como se pudesse ver todos os pensamentos.

Sentir todas as primeiras emoções.

Como se lembrasse das suas.


E os sonhos dele apareceram no ar.

O primeiro se desmanchou...

Ele moveu o dedo, tento evitar, mas não deu tempo.


Ela percebeu.

Abriu a mão tentando impedir que caíssem ao chão.

Mas o primeiro se desfez.


Mais um sonho.

Mais uma intenção de salvá-lo.

Mais um dedo se mexendo.

E eles iam se esvaindo... esvaindo... até não restar nada.


Os olhos dela começaram a brilhar.


Ele começou a se mover.

Eram movimentos pesados, dificeis.

Ele pensou que nunca fora tão dificil se mover.


Então, em um ato desesperado de salvá-lo, ela correu.

Entre os segundos que a separavam dele, abriu-se um abismo.

Ele se levantou...

Olhou pela janela...

Refletiu sobre a vida que tivera e sorriu...

Sabe que não fez tudo o que podia.

Fez tudo o que precisava.


Ela chegou até ele.

Corpo imóvel.

Uma última gota ainda escorria pelos seus olhos que estavam imóveis.

Nenhum ar mais passava por ele.

Nenhum ar penetrava mais aquele corpo.


Então, ela delicadamente fechou aqueles olhos.

Deitou-se ao lado dele e olhou para o teto, na esperança de quem sabe, enxergar, a última coisa que ele viu.



terça-feira, 19 de abril de 2011

Para meus amigos

Amigos:

- Aqueles que reencontramos depois de anos e mesmo assim parece que nunca nos separamos.

- Aqueles que nos magoam às vezes quando dizem o que não queremos ouvir;

- Aqueles que nós fazem sempre sonhar mais;

- Aqueles que nos mostram o quão nossos pés estão longe do chão;

- Aqueles que cantam e dançam conosco, não importa se é na sala, na rua ou no metro, mas que nós desafiam a nos expor, a expor aquilo que acreditamos;

- Aqueles que nos fazem rir, às vezes pelos seus trejeitos, às vezes porque são apenas felizes;

- Aqueles que nos abraçam, quando precisamos ser abraçados e nos dão a mão, quando sentimos que estamos afundando;

- Aqueles que tem a coragem de segurar a nossa cabeça em seu ombro e de nos admirar, ainda que estejamos fracos;

- Aqueles que não dizem sempre as palavras que esperamos, mas que nos surpreendem dizendo coisas que jamais pensávamos;

- Aqueles que a gente prometeu que estaria sempre ao lado e, que por brincadeira do destino, mudou de direção.

- Aqueles que nos contam sobre seus sonhos, sobre seus medos, sobre seus amores e nos confiam e nos escutam como se pudéssemos entender o que ele não entende e como se pudéssemos fazê-los entender.

- Aqueles que nos fazem massagem nas aulas;

- Aqueles que levam bronca junto conosco, às vezes tendo culpa, às vezes não;

- Aqueles que brigamos e falamos alto e apontamos o dedo na cara e no segundo seguinte nos abraçamos pedindo desculpa, jurando que jamais voltaríamos a fazer aquilo;

- Aqueles que nos perdoam quando prometemos que estaremos com eles quando querem e não estamos, mas não porque não queremos, mas sim porque não conseguimos;

- Aqueles que perdoamos por não estar conosco quando precisamos, pois sabemos que não estiveram apenas por não saber como estar;

- Aqueles das baladas, das danças, das festas;

- Aqueles das descobertas, do mundo, de nós;

- Aqueles que filosofam, que querem descobrir o mundo, entender cada pedaçinho dele;

- E aqueles que querem entender do outro, como conquistá-lo, como envolvê-lo.

Amigos são anjos que Deus colocou no nosso caminho, para que sempre andemos pelo caminho do meio e que experimentemos (porque não?) um pedaçinho de cada extremidade.

Os amigos são extremos, se complementam, nos complementam.

Alguns pensam como nós, mas nem por isso concordam com tudo o que dizemos.

Outros tantos pensam tão diferente que acabamos chegando a um senso comum.

Não importa muito o número de amigos.

Importa sim a qualidade de tempo que você passou com aqueles que tem:














quarta-feira, 13 de abril de 2011

O som...

Você já ouvir esse som que toca agora?

É o som do desespero?

É aquele som que você disse que toca cada vez que uma pessoa perde a esperança?

Por que escuto esse som no ar se ainda ontem me puis a sonhar?

Será que encharcaram minhas esperanças de dúvidas?

Será que eu permiti?

Sabe, minha mãe sempre me disse que não precisamos aceitar os "cocos" que os outros nos dão.

Mas e quando a privada inunda e a merda toda se espelha e você não está perto para proteger o que é seu?

Há como recusar?

É só tapar os ouvidos, que talvez a melodia cesse. E quem sabe você acredite que o desespero passou. Não é?

Então... lentamente tiramos as nossas máscaras e nos olhamos, e nos percebemos e vimos que não é necessário escutar a canção que toca no mundo.

Basta olharmos para os nossos olhos.

Basta vermos nosso cansaço carimbado na testa.

A nossa desilusão cravada no peito.

Tão fácil tentar se enganar.

Somos cheios dessas tentativas.

Até que um dia, não há mais como fugir.

Não há para onde correr.

É necessário destampar os ouvidos e escutar a canção.

Escutar a canção e quem sabe, tomar uma atitude.

Ousar trocar a música.

Ousar desligar o som.

Ousar escutar o que o tempo todos, não queremos. Por medo.

Medo de descobrir quem somos.

Trânsito Caótico

Paralisado.

Longe e perto de algum lugar.

Longe de onde quero ir.

Perto dos lugares que nunca e vi e que talvez, nunca verei.

Imóvel.

A cada minuto uma pequena avançada a 20 Km/h.

Só o tempo de o carro andar para você não sair puxando os cabelos. ARRRR.

Está caótico o negócio!

Tanto pra ir quanto para voltar perdemos cerca de 1, 2, 3 horas e em alguns (piores) casos, até 4. Isso para andar pequenas distâncias.

E, quando refletimos, percebemos que lá se foi nosso tempo.

Quantos beijos não poderíamos ter dado?

Quantas pessoas não poderíamos ter conhecido?

Quanto sexo não poderíamos ter feito?

Quantas coisas!

Poderíamos ter feito muito, muito, muito de tudo isso e no entanto, somos escravos.

Escravos da sociedade.

Escravos do trânsito.

Escravos das obrigações e regras.

E nessa, acabamos cheios de olheiras.

Acabamos de caso cheio do mundo!

Queremos silêncio.

Queremos paz.

Chegamos em casa parecendo zumbis, de tanto que essa rotina ridícula nos suga.

Olhamos para os nossos filhos / pais e não os vemos. E na boa, nem queremos ver.

Estamos exaustos!

Fico pensando se o trânsito também não é uma forma de alienação. De manipulação.

Um dia eu ainda vou saber.

Enquanto não sei, fujo do caótico.

Nada que um belo esporte após o trabalho não resolva.

Mas às vezes, não dá pra fugir e temos que enfrentá-lo e, de certo modo me sinto culpada.

Fico pensando:

- Como poderia ser diferente!

Não poderia?

Por que não o é?

Por que tanta perda de vida e de tempo na caótica tentativa de se chegar a algum lugar?

Não seria bem melhor, se simplesmente pudéssemos, chegar em casa, ainda com um belo sorriso no rosto, olhar para a nossa família, com os olhos cheios de carinho e vazios de cansaço, dar-lhes um beijo e perguntar:

- Como vocês estão?

- O que fizeram de bom?



Como você está?

O que tem feito de bom?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Change

São detalhes.

Como fotografias.

Mas foram tiradas pelo cérebro.

2007.

Caindo de pára-quedas se deparou com um futuro.

Não imaginava aonde a iria levar, mas começou...

Começou ali, não apenas a vida profissional.

Começaram amizades, incertezas, expectativas.

Pessoas completamente diferentes. E de assim o serem, tão completas.

E então ela já foi desafiada a sair do seu espaço.

Mas ela era tão inocente.

Acreditava nas mais belas fantasias.

Se deixasse, esperava o príncipe no cavalo branco surgir dizendo que a amaria para sempre.

2008

Uma por uma suas fantasias foram caindo, assim como roupas jogadas ao chão.

Seus sorrisos foram se apagando as poucos.

Sua chama de vida, foi se dissolvendo.

2009

Até que seu mundo desmoronou. E foi tão rápido que ela nem teve a chance de perceber.

Então suas certezas misturaram com as incertezas e tudo, realmente tudo virou incerto.

Ela fingiu que estava tudo bem... continuou a vida, ignorou seus sentimentos e intuições.

Cresceu, mais que isso, virou mulher.

Uma mulher com uma pitada de personalidade e sem sonhos.

2010

Então, como um joguete do destino, e ele tem muito desses, ela ganhou um novo pára quedas.

Quando ele chegou, esse piso era incerto e ela tinha medo. Medo de finalmente se perceber.

E ela teve que enfrentar isso, porque ela começou a se perceber.

E foi a melhor coisa que ela fez.

Ela gritou e berrou tudo aquilo que estava entalado por anos.

Ela voltou a se perceber.

2011

Ela acredita se conhecer.

A cada novo passo, descobre que ainda não se conhece.

Normal.

Os sonhos, até os recuperou, mas não são mais com reinos encantados, são simplesmente com coisas fundamentais.

Não deixou de acreditar no amor.

Apenas deixou de acreditar que tudo era amor.

Uma pena.

Pois tudo é.

Teorias

Tenho uma teoria:

Nós nos achamos muito especiais.

Mas mais especiais que os outros.

Achamos que como nos filmes, no final, seremos os únicos que sobreviveremos.

Seremos os únicos que viveremos alucinadas paixões.

Os únicos que... que... que...

Tantas coisas não é?

Seria bom ser único.

Alguém chegar pra você e dizer... Meu... é você!

E realmente é!

Se realmente fosse.

Aí, sorteiam carros e nós, ligamos porque vão nos sortear.

E não sorteiam.

Sorteiam dinheiro, e nós apostamos, porque, claro, acertaremos os números.

E não acertamos.

E aí, dizemos, eu vou esperar mais um pouquinho, porque Deus, Deus sabe o que faz.

E ele te deu o livre arbítrio. Para esperar ou não, mas para agir. Sempre

Mas sempre esperamos que ele, ou eles ajam por nós.

Fato é que não somos os únicos.

Quem nos dera ser no mínimo especiais, ainda mais no dia de hoje.

Mas somos pessoas comuns.

Amanhã, pode ser que estaremos vivos.

Amanhã pode ser que não.

E, isso não te faz ser mais especial ou importante, porque você também morrerá um dia.

Eu tenho uma teoria:

Buscamos tanto ouvir dos outros que somos importantes, para que, talvez, de alguma forma, a gente não se sinta tão só.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O escolhido

Pessoas sentadas ao chão.

Algumas escondidas atrás das outras.

Outras na forma de um feto, com o joelho encostado no peito.

Outras tantas normais, tentando aparentar calma, que seus olhos, contradiziam.

Uma sentença foi dada!

Alguém dentre todas as pessoas que ali estavam havia sido escolhida.

Ele estava distante, olhos compenetrados, mãos dançantes, aparência tranquila, mas seu coração maquinava impulsos buscando uma saída.

Dois grandes homens vinham em sua direção e junto o medo percorria suas veias e dava choquinho em suas terminações nervosas.

Eles pararam, um de cada lado do rapaz que permanecia com os olhos compenetrados.

Ele sabia que a hora tinha chegado.

Pegaram-no.

Fogos de artifício explodiram em suas barrigas.

Levaram-no até o mais alto dos prédios.

Os que não haviam sido escolhidos desafrouxavam o medo e olhavam, sussurando>

- Ele vai morrer!

- Ele já era!

- Antes ele do que eu!

E o escolhido, olhando para baixo, com o coração querendo fugir do corpo para não morrer junto, tentava respirar.

Os dois homens o soltaram.

E ele, como se soubesse que era necessário fazer aqui, mesmo sem ninguém ter lhe dito, se jogou!

Todos olharam admirados:

- Quanta ousadia!

- Que fuga mais bela!

Enquanto o escolhido caia, o medo ia sendo levado pelo vento. Ele pensava em sua vida. Os segundos que faltavam para levá-lo ao chão transformaram-se nos anos que ele até ali havia vivenciado.

Ao chegar ao chão, escutou palmas.

Muitas e muitas palmas.

Ele abriu os olhos, olhou para o corpo, percebeu que estava intacto.

Se levantou e viu aquela multidão que se levantou junto para aplaudi-lo.

É, definitivamente eu me joguei!

Agradeceu.

Saiu!