sexta-feira, 25 de março de 2011

Revolta

Negamos a verdade que quase sempre está na ponta do nosso nariz.

Freqüentemente.

Negamos talvez porque somos brasileiros.

Talvez porque somos humanos.

Talvez porque somos idiotas.

Mas a negamos.

Acreditamos mais nas ilusões que construímos, como se pudéssemos mudar a mente dos outros ao mudar a nossa, do que na realidade de fato.

E quando as coisas não saem bem como planejamos.

Nos frustramos.

Porque pensamos que todos deveriam seguir o nosso pensamento.

Já pensou se você tivesse que seguir o pensamento dos outros ? Quantos erros teria cometido?

Erros talvez irreparáveis e imperdoáveis, porque não se fez com um propósito pessoal, uma crença momentânea, se fez por nada.

Se fez porque acharam que você deveria fazer.

Temos a mania de achar que todos tem que seguir aquilo que acreditamos. E olha, à risca. Uma saidinha se quer da linha, a pessoa já passa a ser "ruim".

Ora essa... então somos o tempo todo ruins. Decepcionamos o tempo todo as pessoas. Fazemo-as chorar. Nossa! Como as fazemos.

Mas sério.

Dane-se.

Eu não uma linha para seguir.

Você também não.

Eu não pedi nenhum compromisso.

Nem você pediu.

Quando nascemos fizemos um pacto de comprometimento?

Não.

Não o fizemos e ainda sim nos comprometemos a fazer tudo o que os outros querem. Sempre o que os outros querem.

E tanto o fazemos que acabamos adquirindo o que eles querem como se fosse o que queremos.

Não sabemos mais quem somos nesse mundo cão.

Alguns diriam:

Somos homem / mulheres.

Somos brasileiros.

Somos bons.

Bem, é tudo uma questão de opinião.

Não somos nada.

Nem somos ninguém.

Somos moldes daquilo que os outros dizem.

Mas nem se sabe mais se são eles, realmente eles, que pensam.




Morte

Durante o dia corremos.

Trabalho, estudos.

Durante a noite corremos.

Estudos, trabalhos, festas.

E em que hora dormimos?

Não dormimos. Morremos.

Morremos no final da vida?

Não. Finalizamos a vida ainda vivendo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Relações

- Eu sou...

Sou a pessoa certa pra você.

Eu te daria muitos sorrisos.

Estaria ao seu lado durante as lágrimas.

Te daria a mão.

Seria tua amiga.

Sem ciúme.

Ou só um pouco, por charme.

Estaria com você quantas horas fossem necessárias.

Não gostaria de presentes ou promessas.

Se quisesse me dar a mão, aceitava.

Se não quisesse, não a implorava.

Me diz... quer mais perfeição?

Sou perfeita para você.

Sou mulher.

Sua.



- E é exatamente por isso... que eu não te quero.

domingo, 20 de março de 2011

Estações

É verdade.

Não é só porque vemos a cor das rosas que saímos dizendo quais são.

Não é só porque sonhamos que saímos e realizamos.

Não saímos porque temos medo de enfrentar o frio, ou o calor que pode nos surpreender. Temos medo de estar com casacos aquém do suficiente, ou com blusas demais.

Então... tentamos inventar as quatro estações no nosso peito, como se pudéssemos prever a que estará amanhã, lá fora.

Seria bom se pudéssemos.

Não correríamos o risco de congelar sempre.

Ou de derreter, meio ao que não prevíamos.

Mas não podemos e, na maior parte das vezes tendemos a deixar neve no nosso coração. Antes se derreter, ser embriagado pelo sol, do que congelar, se tornar imóvel pela tempestade.

E, nosso pobre coração vai ficando entre gripes e remédios. Entre tempestades e calores. Entre sim e não.

Seria tão melhor não termos medo das estações.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O dia em que te conheci. - Parte 4




...

Eu consegui!!!!
Um sorriso!!!

- Obrigada!

Você estava desconfiada.

Claro, tem todo o direito de estar. Um louco vai em direção a você e te diz que é linda.

Pior é que depois do obrigado, não consegui dizer mais nada, apenas te deixei ir.

Espero que pelo menos tenha te dado um momento de felicidade.

Começo a me perceber agora, estou fora de casa.

Nunca havia posto meus pés na rua.

No mundo.

Corri para dentro de casa.

Fechei a porta.

Tranquei.

Fui pro chuveiro e tomei banho.

Queria tirar a imundice do meu corpo.

Então esfreguei, esfreguei e esfreguei.

Mas era tarde.

Você e o mundo já haviam ganhado meu coração.

Fui dormir.

Nos meus sonhos você apareceu linda, pronta para mim, para me perceber...

Mas acordei...e sabia que aquilo não passava de ilusão.

Decidi sair, no mesmo horário que havia lhe visto ontem.

Então, na hora marcada eu abri a porta e sai.

Não hesitei.

E você novamente passou por mim.

Decidi te seguir.

Fui.

Você parou em um café, estava acompanhada de mais duas meninas.

Estava com um vestido vermelho lindo, que combinavam com o seu tom de pele.

Seus olhos brilhavam.

E eu segui você, entrei no café e não conseguia tirar meus olhos de você.

Você me olhou.

Não sei se lembrou quem eu era, mas acredito que por um momento sim e sorriu.

Eu sorri de volta.

Decidi tomar fôlego e falar com você.

Mas o que eu iria falar?

Não conseguia pensar em nada.

Não conseguia prever suas reações.

Estava com medo sim, muito medo.

Mas fui.

- Oi.

- Oi. - você respondeu.

- Tudo bem? Me chamo Augusto.

- Tudo sim e você Augusto?

- Tudo. Posso saber seu nome?

- Posso saber pra que?

Fiquei meio encabulado.

- Me desculpa, não sei se você lembra de mim. Ontem você passou pela minha casa e eu disse que você era linda. Eu não queria te assustar, mas você é realmente linda. E teve um dia que você passou pela janela e mudou minha vida sabe? Não sei te explicar, mas desde aquele dia...

- Ok, ok Augusto, calma, rs, meu nome é Giovanna. Eu lembro de você sim. Confesso que fiquei um pouco assustada e um pouco feliz.

- Rs. Me desculpe te assustar Giovanna, mas fico feliz que você tenha ficado feliz.

Você sorriu.

Não passava mais nada em minha mente para te dizer.

Fiquei acho que te olhando uns 2 minutos.

Então você quebrou o silêncio.

- Augusto, me desculpe, mas tenho que voltar para o trabalho. Nos vemos por aí.

- Nós nos veremos?

Você sorriu e se foi.

Mas você disse que nos veríamos não é.

Quando saí do transe de pensar e pensar em você, decidi voltar para casa.

Um único problema, eu não sabia o caminho de volta.

Não tinha marcado as ruas pelas quais entrei, não tinha idéia de como voltar.

Não sabia o nome da minha rua ou o número.

Não sabia meu endereço.

Corri atrás de você.

- Giovanna. Preciso te pedir um favor.

- Pode falar.

- Então. Acontece que, eu vim te seguindo de casa, para falar com você...

Você começou a ficar assustada.

- Mas calma, rs, não te farei mal, é que eu não sei meu endereço e não sei como voltar. Se você pudesse me explicar aonde me viu, eu voltaria para casa.

- Como assim você não sabe seu endereço?:

- É a primeira vez que eu decido sair, é a primeira vez que algo me motiva a abrir a porta.

Você sorri.

- Tudo bem. É o seguinte...

Você me explicou meu endereço, delicadamente e com muita paciência.

E eu consegui chegar em casa.


Mas olhando, já não reconheci como minha...

O que será que mudou?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Como as coisas se sentem?

Será que a luz tem aura?

O vento sente frio?

Será que a chuvinha fina sente cócegas, quando acariciada pelo vento? Ou será que sente raiva por ser por ele manipulada?

Será que o chão sente o peso do mundo sobre ele?

Será que as ruas sentem nojo das calçadas?

Será que a calçada não se alegra quando a chuva cai e o vento a limpa?

Será que as lâmpadas não queimam de cansaço?

Será que nossa cama não quebra porque não aguenta mais levar a gente nas costas?

Será que a privada entope para mostrar como está revoltada por ser tratada como lixo?

Será que as plantas tem asma?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Meu presente.

Presentear.

A gente demora para entender que os melhores presentes não são apontados pelas etiquetas.

Os melhores presentes são os que tocam o nosso coração...

Não precisam vir quando os esperamos, nas datas em que o homem disse que se deve presentear.

Devem vir quando você simplesmente quer dar algo a alguém. Só porque você pensou na pessoa. Quis mostrar a ela o quanto ela é especial.

Sabe o que eu acho engraçado? Temos o dia das mães. O dia da paz. O dia dos namorados. O dia do abraço. O nosso aniversário. O natal. O ano novo. A consciência negra.

E tudo pra que?

Para que pelo menos uma vez por ano você lembre que é um ser humano! Lembre que tem o próximo. Lembre que você tem você.

Aí, quando chegam essas datas, ao invés de abraçarmos nossa mãe e dizermos. Poxa... eu te amo. Amo por tudo o que você fez por mim. Amo por estar comigo nos melhores e piores momentos, nós não o fazemos.

Nós compramos modos de agradecer.

Compramos modos de fingir que nos importamos.

Compramos roupas, para mostrar que conhecemos a pessoa.

Nós não conhecemos por fora.

Por fora nós julgamos.

Quando a gente conhece, tem que conhecer por dentro. Tem que saber quando precisou de apoio, tem que ser o apoio do outro quando precisa. Tem que conhecer no sorriso. Tem que gostar de sorrir junto. Tem que conhecer nos momentos.

Porque um dia a vida acaba.

Porque tudo aquilo que compramos fica.

Porque só levamos o que está agregado a nós.

Eu recebi muitos presentes por aí.

90% deles eu não lembro.

Cartas.

Cartas recebi poucas.

Mas lembro de cada momento e de como elas me fizeram sentir.

Essa é a verdadeira beleza da vida.

Dê coisas materiais.

Amanhã ou depois você será esquecido. Basta o brinquedo quebrar. Basta o motor do carro fundir.

Dê momentos.

Você será sempre lembrado.

Porque viver, como já disse um filósofo por aí, não é ter uma grande vida.

É ter pequenos fragmentos de momentos que nos façam dizer:

"Valeu a pena".

O coração.

Tiraram uma radiografia do coração.

Um homem duro, rígido, testa enrugada chegou ao hospital.

O cansaço se notava pelas olheiras, embora da sua maneira ele tentasse disfarçar.

Ele foi pro hospital tendo a certeza que deveria ser internado.

Ele estava muito mal.

O coração martelava.

Suas batidas eram dignas de um tribunal.

- Doutor, por que meu coração está desse jeito? Batendo tão forte?

- Não sei, mas faremos um exame e descobiremos, fique tranquilo.

Então tiraram uma radiografia do coração.

- Olhe senhor. O seu coração me parece perfeito.

- Mas doutor, não é possível, ele dói. É forte.

- Sinto muito, não há o que eu possa fazer. Devem ser gases.

Então o homem saiu frustrado do hospital e foi para a sua casa, crente de que estaria perto de bater as botas.

Chegou em casa. Sua mulher estava preocupada.

- Amor, como foi? O que disseram?

Seus filhos o olhavam preocupados esperando uma resposta reconfortante.

- Ah, não se preocupem, fizeram todos os exames que podiam e disseram que está tudo bem. São apenas gases.

Todos respiraram avaliados.

- Oh meu bem. Que bom. Fico feliz.

Cada um foi para o seu canto e seguiu sua vida.

TUM TUM. TUM TUM. TUM TUM. TUM TUM TUM TUM. TUM TUM TUM TUM.

O coração dele estava acelerado. Estava prestes a explodir. Parecia um trem desgovernado prestes a sair do trilho.

Mas o homem se mantinha firme nos supostos gases que tinha, disfarçando a tristeza e o medo, sorrindo amarelo, tentando segurar em uma corda, para manter-se em pé, em que ele já não acreditava mais.

Então o homem desmaiou.

Sonhou com o seu coração. Que ele lhe falava:

- Olha. Não é só porque eu "pertenço" a você que você sabe mais do que eu. Nós nos complementamos sabe? Você precisa entender isso. Para de fingir que não sente. Eu estou aqui, implorando atenção e o que você faz, sorri amarelo, fingindo que está tudo bem. Pois bem, não está. Eu estou precisando de ajuda, de cuidado. Vocês cuidam do racional, se preocupam em manter as aparências, se preocupam com os outros e enquanto isso eu berro aqui pedindo que vocês, ao menos uma vez me olhem! Pô senhor, to cansado. Se você se olhasse, mas de verdade mesmo, veria todas essas rugas que você mesmo plantou no seu rosto. Todo esse cansaço que hoje você leva nas suas costas curvas porque não me ouviu. Não quis escutar que eu precisava de um tempo.

E saindo triste, finalizou.

- Pô. Nunca me ouviu.

E saiu.

Então ele acordou pensando que fora o sonho mais bizarro que havia tido.

Percebeu que seu coração não estava mais tão agitado... estava começando a voltar ao normal.

Então percebeu que o medo que ele tinha não era de morrer.

Era de renascer.

Encontrar ou Conhecer.

Vivemos a nossa vida esperando o príncipe encantado, no caso das mulheres, e a menina perfeita, no caso dos homens.

Aí, surge uma pessoa e ela, nos envolvemos e deixamos acabar o relacionamento.

Aí, quando tudo acabou a gente descobre o quanto era importante.

E era tão importante que passam anos e você não a esquece, não a apaga.

Então a gente corre atrás em uma tentativa desesperada de reaver o que, em um lapso, não consideramos encantado ou perfeito.

Acontece que temos medo de demonstrar fraquezas, medo de demonstrar que erramos e sobretudo, medo de demonstrar que amamos.

Então a gente vai levando, sempre achando que teremos o amanhã para cumprir as promessas que fizemos e para ver os outros cumprindo as promessas que nos fizeram.

Então nos conformamos, sempre com o mesmo discurso: "da próxima vez eu vou (beijá-lo, dizer o quanto me importo, dizer o quanto ele é especial" e esperamos sempre as mesmas coisas "tenho certeza que na próxima vez ele vai (lembrar do meu aniversário, me dar o presente que tanto promete, vai me dizer que me ama e vai dizer que sou única e especial).

Especial?

Eu jogaria para o alto todas essas esperanças e promessas se eu pudesse hoje ficar protegida no seu abraço. Só por hoje. Só assim, sentada em um ângulo de 90 graus para com você, e você me abraçando, minha cabeça no seu ombro e só.

Só isso.

Não quero nada luxuoso. Nenhuma pomessa, nenhuma palavra.

Quero um momento. Apenas isso.

Mas esse momento nunca chega porque a gente sempre acha que ele vai acontecer amanhã, e amanhã e amanhã. Aí a gente acorda e surpresa:

Acabaram-se os amanhãs.

Acabou-se o presente.

Acabaram-se as oportunidades.

Nós acabamos com elas porque esperamos não sei o que para começar. Para recomeçar.

Fato é que a gente vive a nossa vida esperando o príncipe encantado, no caso das mulheres e a mulher perfeita, no caso dos homens.

Aí a gente encontra aquela pessoa.

E do mesmo modo que a encontramos, a deixamos passar desconhecida por nós.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sintonia

Saiu o sol.

O que farei com a minha boca?

Ah, já sei.

Um sorriso.

Mas um sorriso aberto, convidativo, ou um sorriso discreto, provocativo?

Discreto.

Como estarão meus olhos?

Azuis, como o céu?

Verdes como a natureza?

Marrons, como a madeira?

Marrom.

Que ouvidos usarei hoje?

Aqueles perfeitos, ou os imperfeitos?

Com ou sem filtros?

Perfeitos e filtrados.

E meu nariz?

Uhn... um nariz bonito, com uma pintinha do lado direito, apenas por charme.

Meu cabelo?

Solto?

Não. Preso.

Trança!

Cabelo trançado.

Perfeito!!!!

Roupas pretas.

Sapatos de salto, brilhantes, para serem admirados pelas ruas.

Linda!

E quem haveria de dizer que eu não sou?


Noite.

Tirei o sorriso.

Tirei a cor dos olhos.

Tirei os ouvidos perfeitos e filtrados.

Tirei as roupas escuras.

Tirei o nariz com pinta.


Desviei do espelho.

Abri as gavetas.

Guardei cada coisa em seu lugar.


Soltei meu cabelo.

Abri a janela.

Ninguém na rua.

Vários rostos vazios olhando pela janela, procurando a mesma coisa.

Pensei.

"Olha. Que sintonia!"


Que sintonia.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O muro

Outro dia ela se questionou sobre isso.

Ela sempre se questiona.

Será que é tudo sempre perfeito?

Ela sabe que não.

Mas será que não?

Ela se lembrou, quando era jovem, das brincadeiras bobas, de pular elástico, de fazer performances de dança, de pular na piscina.

De sorrir.

Lembrou dos momentos de confidências, dos momentos em que se sentia amada, importante, quando fazia uma lição e um professor elogiava e corria para contar para os pais. Do orgulho que eles sentiam.

De ser alguém único.

Lembrou das bebedeiras com os amigos, das baladas, das paqueras. Lembrou dos momentos de risada e da sensação de se sentir desejada, admirada.

Quem é que nunca quis se sentir assim, desejada, amada, importante?

Então, ela lembrou da parede.

A parede que a barrou dessas lembranças, desses momentos.

Uma parede que ela construiu, tijolo por tijolo.

Ela se pergunta incessantemente "Por que construí?"

Por que?

Então, ela lembra das ondas dos mares que se agitavam furiosas e lhe encheram, pouco a pouco, até transbordar.

Lembrou das dificuldades, de se sentir cada vez mais sufocada, cada vez com menos espaço, cada vez mais cheia dos ondas.

Lembrou dos choros.

Lembrou da ausência dos sonhos.

Lembrou das perdas que barraram sua vida. Barraram seu crescimento.

E lembrou, como quem acorda de um sonho, de pegar um machado e por dias e noites, longos dias e noite, quebrar um por um os tijolos que ela mesma havia colocado.

Quando ela estava chegando ao final, a escuridão do seu momento atual se misturou com o azul dos momentos gloriosos.

E então, e só então, se fez a vida.

Se fizeram as lembranças e os aprendizados.

Só então ela se fez inteira.