quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A distância entre 02 portas.

Está tarde. As minhas malas estão arrumadas. Estavam escondidas. Esperei todos dormirem. São 03 da manhã, estou abrindo meu guarda-roupa, pegando as malas prontas. Deixei elas na sala. Passo no quarto dos meus irmãos. Digo tchau, mas ninguém escuta. Eles estão dormindo. Passo no quarto da minha mãe, com lágrimas nos olhos digo... Até. E novamente silêncio. Tomo um copo de água. Olho pela última vez minha casa. Aquele que eu vivi durante 11 anos. Ela está tão diferente de quando coloquei os pés aqui pela primeira vez. Tanta coisa mudou nesses anos... coisas que me fizeram rir, coisas que me fizeram chorar. Muitas coisas que passei aqui foram necessárias para o meu amadurecimento. Aliás, todas foram. Algumas eu dava tudo pra não ter passado, outras eu dava tudo pra passar de novo. Isso é viver, a gente não tem borracha, não faz ensaio, isso é real.

Então vou para a sala... olho as cadeiras, lembro dos sorrisos, dos almoços na mesa da sala... lembro dos choros, das brigas, das reuniões de família. Vou pra sacada, olho o prédio da frente, lembro dos meus 13 anos, dos meus amigos, meus amores, minhas brigas. Passa o filme da minha vida. Bate a suadade. Mas é hora de partir.

Volto pra sala, pego minhas malas, me encaminho a porta, abro ela, chamo o elevador e enquanto ele sobre eu olhos novamente aquela minha casa. Nossa eu nem lembrava desses quadros na parede, nem lembrava que tinham esses cds. Como a gente passa a vida toda em um lugar e quando está indo percebe que já deixou de ver coisas que estavam na nossa cara? Acho que nos acostumamos. Faz parte.

O elevador chegou. É difícil, dói, mas eu fecho a porta, mas fico um segundos esperando que alguém perceba que estou saindo...que alguém sinta que estou indo...mas ninguém sente. Entro no elevador, desço...e me vou.

Levo grandes lembranças... A família durante um tempo é perfeita... depois a gente passa a questionar as certezas. De certa forma sabemos que ela é fundamental para que sejamos quem somos. Eu devo muito a família que tive. Aprendi muito com ela. Aprendi muito com a minha mãe, com os meus irmãos, com o meu pai e até com o meu padrato, mas chega um momento em que passamos a ser aquele quadro na parede, deixamos de ser vistos como parte integrante da casa, já não nos percebem, só percebem quando precisam que façamos alguma coisa.

Esquecem de nos olhar. Esquecem de ver se estamos bem, se estamos felizes. Isso passa a fazer parte unica e exclusivamente de você mesmo e esse é o sinal de que você precisa criar o seu próprio ninho. Precisa encontrar alguém que te veja como par e não como aquele velho tapete que ninguém mais lembra a cor.

Ir embora é sempre dificil, começar de novo é sempre doído, mas fazer isso enquanto ninguém vê é uma forma de não vermos o quanto os outros também sentem. Pode demorar 1 dia, 2 ou 100, mas em algum momento eles vão notar a falta do quadro. Pode ser que substituam... pode ser que deixem aquele buraco.

Cheguei... abri a porta...ascendi a luz... deixei minhas malas na sala...fui pro meu quarto e dormi... amanhã vou acordar e descobrir meu novo espaço, meu novo eu...

Não digo adeus pro passado... Porque o passado de certa forma é presente... a família sempre estará ao meu lado...e eu ao lado dela... mas é hora de criar a minha própria família. Doido... Dificil...Prazeroso.

Boa noite.

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