segunda-feira, 27 de junho de 2011

Alumínio

Sorrisos amarelos em rostos que já não sabem mais sorrir.

Opacos são aqueles olhos que não sabem mais enxergar.

Pálidos são aqueles lábios que não sabem mais sentir, só beijar.

Tesão e arrepio?

Aqueles corpos não sabem mais sentir, se permitir, brincar.

Dormiu o espírito daquele que não sabe mais viver e nem amar sem regras, sem jogos, sem tentar ser quem não se é.

Perdeu-se o instinto.

Afogaram-se os sonhos nos mares de concreto para se ter, a absoluta certeza, de que eles não ressurgiriam.

Rasgaram-se sentimentos e momentos.

Triunfaram o para sempre, o fracasso, a posse e a pose.

Mudaram-se e moldaram-se feito massinhas por adultos crentes que sabem tudo.

Simplicidade passou a ser sinônimo de pobre e orgulho, de rico.

Paz passou a ser um sonho mais que impossível.

Tristeza passou a se curar com remédios. E a alegria... também.

Loucura agora é sinônimo de rebeldia e ser normal é sinônimo de ser zumbi, moldado em uma massinha verde clara.

O amanhã passou a ser presente. O presente, passado. O passado, memórias apagadas.

A bebida se tornou uma boa risada. O sexo, uma boa fuga e a família, um belo nada.

E você? Mais nada ainda - e isso é tão pouco - mas é o suficiente.

Maquiagens viraram roupas.

A mala se tornou o sonho e a liberdade, o bem maior.

Amizades são pouquíssimas e muito raras.

O amor? Mais raro ainda.

Respeito se tornou sinônimo de ser quadrado e compromisso passou a ser clichê.

A moda agora é pegar quantos puder, aproveitar, fazer muito sexo, curtir, mentir, enganar, fugir - É, isso se tornou viver.

Esse é o mundo de hoje.

Essas, as pessoas.

Em pleno 2011, já chegamos à lua, à marte. Já descobrimos várias tecnologias e curas para doenças. Já criamos vários estilos. Aceitamos o casamento gay. Bin Laden já foi morto. Há um Presidente Negro nos EUA e uma Presidenta no Brasil.

Não somos mais crianças.

E, no entanto, ainda não conseguimos abraçar, sentir, amar e respeitar ao outro. Desvendar o relacionamento humano.

Não conseguimos curar o vazio interior.

Temos tantos estímulos externos que eles acabam por pressionar o nosso corpo, que acaba pressionando nossa alma, que triste, se esconde, esperando o seu momento de ser vista, escutada, respeitada e amada.

Sabemos tanto dos outros. Desejamos imensamente ser como eles.

Mas não sabemos quem somos, não sabemos nossos pontos fortes e fracos ou como melhorar a nós mesmos.

Criam-se sujeitos amargos, depressivos, incapazes de demonstrar e receber amor.

Criam-se sujeitos medrosos. Com medo de chorar, com medo de sofrer, com medo de se mostrar fraco, com medo de amar.

Se cobra que o ser humano saiba separar a vida pessoal da profissional como se ele pudesse se dividir ao meio e deixar a metade de si, ali.

E sabe qual o pior?

Ele está aprendendo.

Ensina-se a viver para fora.

Esquece-se de dentro.



Há uma propaganda que diz, que os robôs gostariam de sentir o que sentimos.

Logo menos, nós seremos os robôs da nossa geração.

E talvez queiramos voltar.

Mas aí, vai ser tarde, porque seremos apenas, alumínio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário