segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Mundo Estranho

Eu vi daqui, um mundo estranho. As pessoas pareciam perdidas. Distantes umas das outras. Distantes de si mesmas. Elas caminhavam, mas não sabiam para onde. Elas não se olhavam. Quando se cruzavam, atravessavam as ruas, mudavam de calçada, ou simplesmente paravam e não se mexiam. Tinham medo. Era vazias. Não tinham nada, nem a si mesmas.

Pelas esquinas eu achava partes, um coração que batia de saudade. Uma mão que nunca achou uma parceira. Um pulmão que já não tinha mais ar. Uma mente que já não sabia distinguir o real do imaginário. Achava pessoas vivas pensando estar mortas. Achava pessoas que tinham perdido alguém. Achei corpos largados na rua, sem ninguém para ocupá-los.

O curioso é que não achei passos. Todos foram, mas ninguém queria voltar, ou talvez não pensou que se perderia no caminho.

Mas se perderam e, a cada esquina que dobravam, deixavam mais de si, e cada vez eram pedaços maiores, pedaços cruciais para a sobrevivência.

Não os culpo, essa vida é a que estamos aprendendo a caminhar, não somos obrigados a saber como caminhar. Cada um testa os seus passos no decorrer da vida.

O problema é que as pessoas vão, caminham, correrm, dobram as esquinas e tentam percorrer todas as ruas do mundo para dizer: eu vivi. E esquecem a si mesmas pelo caminho. Esquecem os sorrisos, esquecem as lágrimas, fogem da dor, fogem da saudade, esquecem do corpo, esquecem dos sentimentos. Elas querem correr para alcançar tudo... e no final, deixaram tanto de si por ai, que não dá para reaver e quando se está perto de alcançar tudo, explode-se sem nada.

Vocês dobram as esquinas todos os dias... já pensaram no que deixaram, do que não levam mais, do que deixaram de olhar, no que deixaram de perceber, no que já não querem mais sentir?

Vocês já perceberam que se perdem em cada novo passo e, ao pensar que estão ganhando o mundo na verdade estão perdendo mais um pedaço de si mesmos?

Vocês já perceberam?

Percebam.

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