quinta-feira, 19 de abril de 2012

Como num tornado, aos poucos e sem perceber eu mesma fui criando amarras em mim. Começou em minhas pernas que não podiam viver o mundo, na verdade precisavam estar lá, onde estavam, apoiando mais que a mim, apoiando a quem precisava de apoio e assim, lhe impedi de seguir qualquer que fosse seu destino. Um nó jamais seria suficiente. Dei três, para ter certeza que não desamarrariam.

Depois, amarrei minhas mãos, elas precisavam dar mais carinho do que foram acostumadas a receber e não poderiam fugir disso, as pessoas precisavam se sentir confortáveis, cuidadas, acarinhadas. E minhas mãos não estavam prontas para tanta doação, entreguei mais que carinhos físicos, entreguei-me inteira e tira que amarrá-las também com aqueles três nós de confiança.

Pouco a pouco fui secando, ao contrário de uma flor, ao invés de desabrochar, fui secando, encolhando, me dobrando. Era necessário e, como sempre, não havia qualquer escolha que me fizesse fugir da cabeça caindo e da coluna se curvando. Era preciso estar nessa posição para servir de apoio e escada. Era necessária a cabeça baixa para não ver que eu estava só e que ninguém jamais levantaria meu rosto e me deixaria ereta novamente.

Os tempos voaram e eu nesta posição não os vi passar, até que o inesperado me surpreendeu e me arrematou, Lacrou meu olhos e ouvidos. Lacrou meu coração. Secou minhas lágrimas impedindo-as de cairem.

Fiquei sem voz e sem fala.

Sem nada.

Então, em um dia como qualquer outro eu procurei um fuga... quem não iria querer fugir em uma situação como esta?...

Comecei a fazer teatro e me lembro como se fosse ontem da minha dificuldade de fala, de improvisação...de reação instantantea. Tão acostumada a passos medidos eu me vi exposta e nua tendo que reencontrar-me com a oportunidade e tendo que soltar-me para me reencontrar.

Então, comecei pelos nós mais fáceis de serem desatados... esses doeram um pouco quando soltados, derrubou algumas lágrimas...mas continuei firme em meu propósito.

Então, mais solta e com mais criatividade, percebi que o teatro estava me ajudando a lidar com os meu próprios medos e anseios e me fazendo questionar tudo aquilo que até então era lei na minha vida.

Então, fui seguindo, questionando-me, desatando meus segundos nós... esses foram mais dificeis... mais doloridos... eles não queriam ser soltos porque sabiam que se eu os soltasse, os 3° poderiam não aguentar sozinhos. Então me jogaram na cama, me fizeram doente, me fizeram derramar mais lágrimas d que eu imaginei q meu olho podia suportar, mas tirei os nós.

E continuei, com aqueles pesos a menos.

Quase ereta, fui fazer Leonce e lena, onde, a peça me arrebatou por inteiro. Era nítido o quanto ela era tudo o que eu queria ter dito e jamais dissera, talvez jamais diria.

Então, chegou a hora de desatar o 3° nó... esse foi muito, muito dificil, além de ser o mais antigo e enferrujado, havia junto o medo de soltá-lo...e se eu já não soubesse caminhar seu os meus nós, sem apoiar as pessoas. E se eu caisse ao soltá-lo, como me reerguer?

Confesso que foi dificil, mas, aos poucos foi os destando... e foi uma avalanche de sentimentos.

É claro que eu cai ao chão...e enquanto eu queria me reerguer parecia que o mundo conspirava para q eu ficasse fechada.

Mas eu me reergui.

E me reencontrei.

Estou fresca.

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