terça-feira, 18 de outubro de 2011

Construção.

Cacos meus pelo chão que me parecem ser de uma contrução.

Contrução do que? de quem?

Construção sem tapete de boas vindas.

Apenas o chão de cimento e meus sonhos picados sobre ele.

Ando neste chão infestado de mim mesma e me corto com meus sonhos surrupiados.

Refletem a mim e me cortam como um espelho recém quebrado.

Então, vou pro canto, me sento e me encolho o máximo que posso e fecho meus olho, com medo de sangrar cada vez mais.

Então você surge...

Me vê...no canto imóvel.

Me vê... pelo chão... aos cacos... quebrada.

Então, sem alarde, recolhe meus pedaços maiores e faz com eles uma pilha e coloca-os ao meu lado... são quase do meu tamanho.

E eu fico quieta... não me movo.

Então você pega a vassoura e começa a varrer os que parecem menores...mas são profundos...

E, a medida que você os junta... eu choro...

A medida que você me monta... eu me desfaço em lágrimas...

E então... inesperadamente a contrução começa a tremer...

Você tenta me pegar... mas não me alcança... não consegue... estou presa entre meus sonhos, dentro daquela contrução prestes a desabar.

Você tenta me dar sua mão, mas o teto cai e te deixa imóvel, não permite que você me resgate, que você me alcance, que você me faça inteira de novo.

Tudo escuro em volta de mim.

Ouço vozes tão perto, que mal percebo que vem de dentro de mim mesma.

Os cacos de sonhos brilham, não me pergunte como, não há luz aqui neste cubiculo em que me encontro.

Mas eles brilham.

E eu te vejo no brilho dequeles momentos, hora sonhados, hora realizados e me vejo também.

Com breves sorrisos que me mantinham por longos momentos.

Me levanta devagar, ainda me corto, mesmo pensando que já dominei as lâminas... continuo sangrando e, lentamente percebo um desenho na parede.

Ele forma uma imagem tão bonita. Não sei o que é...

Percebo que os cacos são partes dele e começo a montá-los como um quebra cabeça...

E, quando termino... percebo que até aquele sangue derramado, serviu para a formação completa da arte.

Quando percebo... já não estou mais presa a construção nenhuma.

Já estou em um jardim...com inúmeras flores e ao longe vejo seus olhos preocupados brilhando ao me ver completa.

Já não possuo feridas.

E como sempre... deixei minhas digitais naquela parede que daqui a pouco, desabará.

É inevitável.

Tão inevitável quanto enfrentar, em algum momento, suas dores...seus acertos... seus choros e seu sorriso.

Tão inevitável quanto, ao terminar, sentir-se inteira...mesmo não o sendo, completamente.

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